
População segue apreensiva, mas atendimentos continuam enquanto se define quem comandará o hospital.
A manhã desta segunda-feira (1º) foi de alerta máximo para a saúde de Jaú e região. Em coletiva de imprensa, a Santa Casa de Misericórdia de Jaú confirmou a renúncia coletiva da Mesa Administrativa e expôs, em números, a gravidade do déficit financeiro que vem pressionando o hospital. O clima foi de inquietação entre prefeitos da região, vereadores — entre eles Paulo de Tarso e Rafaela Hernandez presentes — e usuários do Sistema Único de Saúde que acompanharam a transmissão pela internet – a Página Central da Notícia fez a cobertura ao vivo, compartilhada na página do Jaumais..
“Minha opinião: melhor o Estado vir tocar”
No pronunciamento de abertura, o provedor Alcides Bernardi Júnior — na diretoria desde 2010 — resumiu o momento com franqueza:
“Estamos em déficit e cada vez aumenta mais. Minha opinião seria melhor o Estado vir tocar. Hospital não se toca só com conversa, precisa de dinheiro.”
Segundo ele, 92% dos atendimentos são pelo SUS, mas o financiamento não acompanha os custos. O déficit mensal gira em torno de R$ 1,8 milhão e a dívida total passa de R$ 40 milhões com o sistema bancário. Ele citou tentativas de obter socorro em Brasília e junto ao governo do Estado, sem solução concreta até agora. Também lamentou ataques pessoais:
“Estou cansado de ouvir que sou ladrão; que tem que ter auditoria. Da minha parte, é irreversível. Vou renunciar.”
Quem renunciou
A renúncia alcança toda a Mesa Administrativa (mandato 2023–2026):
- Provedor – Alcides Bernardi Júnior
- Vice-Provedor – Antônio Ângelo Rossi
- 1º Secretário – Dr. Carlos Roberto Guermandi Filho
- 2º Secretário – Dr. João Pacheco Galvão de França
- 1º Tesoureiro – Adhemar Galvanini
- 2º Tesoureiro – Adilson de Carvalho. santacasajahu.com.br
Conforme comunicado pelo hospital, o Conselho Fiscal também anunciou renúncia junto com a Mesa.
“Receita não cobre o custo”
A administradora Scila Carretero detalhou o quadro operacional e financeiro:
- 1.445 funcionários no total;
- 222 atuam no Pronto-Socorro (PS) — custeado pela Prefeitura;
- Repasse municipal de R$ 3 milhões/mês para o PS, insuficiente diante do volume de atendimentos e da alta de insumos e folha;
- Receitas não cobrem os custos; crescimento de procedimentos e contratações pressionou a despesa.
Scila explicou cenários institucionais:
Se a Irmandade for dissolvida, o município entra como interventor e negocia com o DRS.
Se o Estado assumir, a Santa Casa tende a operar como hospital referenciado de alta complexidade, e o Pronto-Socorro teria de ser municipal.
Números apresentados pela contabilidade
O setor contábil exibiu um painel com dados desde 2023, discriminando:
- Repasses por convênio, transferências do município e emendas parlamentares;
- Custeio (folha, encargos, utilidades), compra de medicamentos e materiais;
- Passivos acumulados com FGTS, INSS e fornecedores.
Houve menção à perda de convênios — como a Unimed — que reduziu receita privada; simultaneamente, a demanda pública aumentou. Há ainda especificidades de carga horária por categoria (30h/24h/36h semanais) que, combinadas ao volume de serviços, elevam a necessidade de pessoal.
Inscrição de chapas, intervenção e futuro da gestão
Alcides informou que a mesa protocolou renúncia em 25 de agosto. O processo de inscrição de chapas para uma nova diretoria está aberto até 13 de setembro. Sem candidaturas, o estatuto permite intervenção do município — que então pode manter a gestão, transferi-la ao Estado ou licitar uma OS para administrar.
“Se não aparecer ninguém, vai ter intervenção do município. Aí vão decidir se ficam com o hospital ou passam para o Estado. A população não pode ficar desassistida.”
Vai fechar? E o PS?
O provedor descartou fechamento imediato:
“Não há motivo para pânico. O hospital, com quase 300 leitos, não vai fechar. O Pronto-Socorro continua. Se não for aqui, o município terá de manter um PS municipal. A saúde é obrigação do Estado e do município — não da Irmandade.”
Por que o rombo cresceu?
- Subfinanciamento crônico do SUS versus complexidade dos casos;
- Aumento de custos hospitalares (medicamentos, materiais, pessoal);
- Queda de receita de convênios privados;
- Produção elevada (“leitos lotados, corredores cheios”).
Avaliado recentemente, um plano de saúde próprio (“Santa Casa Saúde”) foi considerado inviável no momento, pelo alto custo e pelo histórico de carteira privada que já deixou a instituição no passado.
O que acontece agora (para a população)
- Atendimentos seguem: hospital e PS continuam operando; não há “apagão” imediato.
- Até 13/9: prazo para novas chapas.
- Sem chapa: intervenção municipal prevista; cenário alternativo é assunção pelo Estado ou OS contratada.
- Risco principal: manutenção do financiamento — o déficit de R$ 1,8 milhão/mês precisa de solução estrutural (contrato firme, ampliação de repasses e/ou reequilíbrio de produção/custos).
- Transparência: a direção afirma ter levado a situação a Brasília e ao governo estadual; espera-se definição política e orçamentária nas próximas semanas.
População segue apreensiva, mas atendimentos continuam enquanto se define quem comandará o hospital.