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Saúde mental não é uma questão individual, mas um processo social e político


31/10/2023
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Jeane Saskya Campos Tavares
Psicóloga, doutora e pós-doutora em saúde pública pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (Universidade Federal da Bahia), professora da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), autora de publicações sobre saúde mental e administradora o perfil @saudementalpopnegra nas redes sociais.
 
Em que momento começamos a acreditar que ter uma boa saúde mental depende exclusivamente de nossa vontade e dedicação? Que é suficiente para promoção da saúde sermos atendidos por especialistas, tomarmos medicação controlada, nos submetermos a protocolos e tecnologias "avançadas"? Quando começamos a pensar que existe algo como "mente" dissociada do "corpo" e do mundo externo a este corpo? Quando passamos a considerar que processos psicológicos acontecem num vácuo de relações sociais e historicidade?
 
Para responder a cada uma dessas questões podemos citar épocas distintas, mas o importante aqui é sabermos que essas ideias são recentes e encontraram sua representação máxima nos séculos 19 e 20. Fazem parte da construção de um mundo pós-colonial e neoliberal que se organiza e se concentra em indivíduos e não na coletividade, que pensa a vida em centros urbanos baseada na produtividade, na competição e no mérito pessoal, na capacidade de consumo como potência de vida, que estimula a alta velocidade das respostas à hiperestimulação diária, que aposta na fragilidade dos vínculos afetivos, na impossibilidade do descanso e do lazer, e no descarte daqueles que não correspondem ao ideal de pessoa saudável ou, para populações marginalizadas, ao ideal de seres humanos.
 
De modo geral, naturalizamos a associação entre saúde mental e o que se convencionou a chamar de "alta performance" neste contexto. Uma condição diretamente relacionada com a capacidade de produzir e acumular determinados bens, de se relacionar com a vida de forma rígida, segundo o padrão do socialmente desejável do homem moderno: sexo masculino, adulto, jovem, branco, heterocisnormativo, sem deficiências, burguês (ou de classe alta, se preferir), não louco, produtivo, atlético.
 
Poderíamos acrescentar outros parâmetros de desejabilidade como religião, por exemplo, mas estes são suficientes para entendermos que os diagnósticos no campo da saúde mental validados e distribuídos nos diferentes grupos populacionais, os tipos de cuidados ofertados, as decisões sobre quem será cuidado ou descartado, torturado e morto, relacionam-se com nossos acordos sobre ser saudável ou doente e do quão próximos estamos do padrão. Ora, se normalidade ou doença são, em grande medida, resultados da negociação ou imposição desses parâmetros, entendemos que a produção de saúde mental ou de sofrimento psíquico não é individual, mas um processo social e político.
 
A exposição continuada a ofertas de serviços e produtos que prometem resultados rápidos e inequívocos, fórmulas prontas, um passo a passo que depende exclusivamente de nossa capacidade de seguir instruções e de pagar pelo mais novo e-book, consulta, tratamento ou retiro, quase nos impede de perceber que é o contexto social descrito acima o grande produtor de sofrimento psíquico na contemporaneidade. Embora abordagens éticas e tecnicamente adequadas, medicamentosas ou não, que considerem especificidades e potencialidades individuais sejam muito bem-vindas e desejáveis, estas não são suficientes para promoção da saúde da população brasileira que tem mantido alguns dos mais elevados números de casos de transtornos de ansiedade diagnosticados em todo o mundo nos últimos anos, por exemplo.
 
Mesmo nos casos de comportamento suicida, que costumamos considerar como o extremo da decisão absolutamente individual, sabemos desde o final do século 19 ser um processo social. Em nossa sociedade ainda organizada a partir do racismo, os fatores que vulnerabilizam as populações negra e indígena para o suicídio tornam ainda mais explicita a produção social do sofrimento. Entre indígenas, destacam-se pobreza, fatores históricos e culturais relacionados à luta pela manutenção dos seus territórios, desintegração de suas famílias, falta de sentido de vida e futuro.
 
Entre adolescentes e jovens negros citam-se ausência de sentimento de pertença, sentimento de inferioridade e incapacidade, rejeição, negligência, maus tratos, abuso, violência, solidão, isolamento social, não aceitação da identidade racial, sexual e afetiva, de gênero e de classe social. Estes são exemplos de como a saúde mental, particularmente de população vulnerabilizadas, depende mais de um contexto social justo e equânime, orientado para a coletividade, para o bem viver e do funcionamento pleno da rede pública de atenção psicossocial, que de nossa "força de vontade", de coacherismos e atendimentos ambulatoriais pontuais.
 
Fonte: Folha de SP
Ilustração: Catarina Pignato
 
 
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