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Humanidades médicas e saúde pública - por Carmino de Souza


01/06/2022

 

 Outro dia recebi, através de uma mensagem de WhatsApp, um desafio de um grande amigo e colega de docência da Unicamp do Departamento de Pediatria. Lendo artigos deste Hora Campinas, ele fez o seguinte desafio: por que você não escreve sobre “Humanidades Médicas e Saúde Pública”.

 
Confesso que em um primeiro momento não entendi bem a provocação tendo em vista que as Ciências da Vida, obviamente incluindo a Medicina, são ciências que têm como primados o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do cuidado aos seres humanos e, portanto, as humanidades estão em todas as nossas atividades.
 
Certamente, o cuidado, seja individual ou coletivo, está cada vez mais multiprofissional, multidepartamental e até multi-institucional, dependendo da complexidade do caso ou da situação a ser enfrentada.
 
Minha primeira resposta a ele, e que parece óbvia, é que nós somos agentes, dentro das ciências da vida, da promoção e preservação de dois pressupostos hipocráticos (Hipócrates é o “Pai” da Medicina): 1- devemos melhorar a vida e/ou preservar a vida dos seres humanos e, 2- devemos buscar sempre que possível, propiciar melhoras na qualidade de vida, independentemente da evolução. Tratamos assim do “cuidado” em seu sentido mais amplo (a palavra cura, em latim, quer dizer cuidado e não eliminação da doença, sentido inglês dado à palavra e adotado em nosso país) e do bem-estar.
 
Pensei um pouco mais e lembrei que devemos sempre ter em mente mais um primado hipocrático: “primum non nocere”. Isto é, se não soubermos o que fazer, nada a fazer inicialmente e, assim, evitar efeitos adversos ou agravos à saúde. Isto é, traduzindo, “primeiro de tudo, não causar danos”. Mas, ele colocou uma outra variável: “na saúde pública”. E aí devemos lembrar que em muitos momentos a saúde deve ser um bem coletivo. Estamos enfrentando a maior crise sanitária dos últimos 100 anos com a pandemia do vírus SarCov-2 e sua doença Covid-19 e este tema foi e tem sido muito debatido no sentido de colocarmos o direito coletivo à saúde como prioritário. Quantas discussões, muitas delas bizantinas, neste assunto. Por que vacinar? Por que usar máscaras? etc. etc…
 
É claro que sempre foi possível encontrar respostas a estas e outras perguntas nos estudos científicos, que se multiplicaram durante a pandemia, mas, em certo momento, longas e inúteis discussões foram travadas em nosso país e em outros países do mundo sobre estes temas. Muitas autoridades, comunidades, se negaram a acompanhar as orientações baseadas em provas e evidências científicas. Ainda bem, esta foi a minoria, particularmente no Brasil.
 
O direito coletivo deve prevalecer sobre o individual em tempos de pandemia ou de outra grave crise sanitária? Eu sempre defendi e defenderei este conceito no campo da saúde pública. Não estamos aqui tratando de perda de direitos ou de autonomia, mas na preservação da vida e da redução dos agravos em contingentes sempre maiores de seres humanos.
 
Esta pandemia nos demonstrou como estes conceitos foram fundamentais para estabilizarmos esta grave crise sanitária. Apesar de muito visível, os casos mais graves com tratamentos intensivos em parte dos pacientes representou a minoria, felizmente. A “guerra” maior e mais ampla foi travada na rede de atenção básica pelos profissionais que trabalharam intensamente nas unidades básicas de saúde (UBS) e no atendimento domiciliar, seja na forma presencial ou remota. Os teleatendimentos, através dos vários profissionais de saúde, se multiplicaram e se aperfeiçoaram, reduzindo o tempo de atendimento e o risco de exposição dos cidadãos e profissionais ao vírus.
 
A impressionante adesão de nossa população ao programa de vacinação contra o SarsCov2, associado aos incansáveis esforços dos profissionais da vigilância em saúde e da rede de atenção básica, que se mantem até hoje, foram os grandes fatores de controle e estabilização da pandemia.
 
Os profissionais de saúde, incluindo os médicos na liderança das equipes, dedicaram suas vidas em tempo integral ao enfrentamento da pandemia, tanto em nível ambulatorial como hospitalar. Muitos profissionais de saúde adoeceram e, lamentavelmente, alguns perderam suas vidas nesta luta contra um inimigo invisível e, em determinado momento, desconhecido.
 
Não me lembro em toda a minha vida profissional de ter visto nada mais intenso e agressivo, bem como nada mais solidário e humano deste trabalho dos profissionais de saúde, dentro do que pudemos acompanhar nestes tempos recentes e extremamente difíceis.
 
A saúde pública através de seus profissionais, do SUS (Sistema Único de saúde) e do sistema suplementar (privado), estiveram juntos de maneira solidaria e absolutamente desinteressada. Tivemos a nítida compreensão do significado de nosso juramento profissional feito em nossa formatura. Nunca a sociedade entendeu tão bem e de maneira tão generosa o valor de nosso trabalho.
 
Nossos únicos objetivos eram vencer o inimigo (“competente” e agressivo), salvar vidas e evitar através das medidas não farmacológicas, dos remédios de vários tipos e das extraordinárias vacinas, a progressão da pandemia. Voltamos a nos entender como profissionais cujo único objetivo é cuidar dos seres humanos, sejam quem sejam e/ou estejam onde estejam.
 
Vimos em nossa prática de vida profissional o que é equidade. E, finalmente, entendemos definitivamente o sentido da “humanidade” de nosso trabalho. O que ocorreu durante a pandemia será lembrado por todos nós enquanto vivermos, e será sempre o balizador de nosso compromisso social e profissional.
 
 
 
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020
 
 
Sindicato da Saúde Jaú e Região
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